Evento, que fez parte das comemorações pelos 75 anos da Congregação, reuniu representantes do espiritismo, islamismo, catolicismo,
além do budismo e do judaísmo

Religiosos juntos na CIP

A Congregação Israelita Paulista (CIP) sediou, no último domingo (21/8), um importante encontro multirreligioso. Intitulado “75 anos de Diálogo”, o evento, que fez parte das comemorações pelos 75 anos da Congregação, reuniu líderes das principais crenças para dialogarem sobre tolerância e cultura de paz entre as religiões.

Depois de um coquetel de boas vindas, a presidente da CIP, Dora Lucia Brenner, abriu oficialmente o evento, agradecendo a presença de todos. “A vinda de cada um aqui é muito valiosa para falarmos sobre diálogo entre as diversas religiões em busca da tolerância e do respeito ao próximo, bandeiras carregadas pela Congregação desde a sua criação”, disse.

Depois do breve agradecimento, foi a vez do rabino Michel Schlesinger assumir o púlpito para conduzir o evento. Ibrahim Abu Shindi, diretor do Centro Comunitário Árabe-Judaico, foi especialmente convidado para falar sobre seu projeto. O Centro foi criado em 1993 em Tel Aviv – Israel, com o objetivo de estreitar os laços e promover a tolerância entre indivíduos de diversas religiões e culturas.

Ibrahim ressaltou a importância de eventos que busquem a tolerância entre as diferentes religiões e parabenizou a CIP pelo trabalho de coexistência exercido ao longo de seus 75 anos de atividade. Sobre a atuação do Centro que dirige, afirmou que “o trabalho de socialização deve começar desde jovens e, para isso, a arte é um recurso com imenso potencial agregador. A situação é complexa, mas pode ser simplificada se tornamos frequentes encontros como os de hoje ou como os realizados entre os jovens, no Centro, em Iafo. Esse é o caminho mais certo para se chegar à sonhada paz”.

Outra participação especial que marcou o encontro foi a de Lia Diskin, da Associação Palas Athena. Em seu rápido, mas muito aplaudido discurso, Lia afirmou que “o evento é de extrema importância, já que simboliza o anseio coletivo por um modo mais saudável e respeitoso de se conviver. A união entre diferentes crenças é um exercício que precisa ser mais praticado e o diálogo, visto de outra forma. Ele não pressupõe apenas falar, mas, principalmente, ouvir o outro, entender e valorizar o outro lado, priorizando não seus defeitos, mas os laços em comum e outras riquezas que o permeiam”, afirmou.

Líderes religiosos também destacaram a importância do diálogo inter-religioso para se alcançar a paz. Para o padre José Bizon, “a Igreja Católica tem se esforçado para o diálogo ecumênico, tendo ciência de que é impossível falar com Deus sem antes conseguirmos falar com os nossos próximos”.

O representante da Igreja Presbiteriana, reverendo Elias de Andrade Pinto, reforçou o desejo pela cultura de paz e afirmou que “a doutrina pregada dita que Deus criou a vida e ama a todos, sem qualquer tipo de distinção, e que a diversidade deve ser vista como motivação para diálogos de paz e não para fomentar conflitos”. O reverendo concluiu sua apresentação ressaltando a necessidade de organização de mais eventos inter-religiosos, não apenas em momentos especiais, mas no dia a dia também, para que o diálogo à tolerância seja buscado incessantemente.

Afonso Moreira Junior, conselheiro da Federação Espírita do Estado de São Paulo, também destacou a igualdade absoluta entre os povos, ditada por sua crença. “Nas casas espíritas, aprendemos e ensinamos que somos todos iguais perante o criador, e devemos respeitar a todos para sermos respeitados”. O representante do espiritismo aproveitou a ocasião para também parabenizar o encontro, “importante para vislumbrarmos um mundo sem barreiras e pacífico”. Seu discurso foi compartilhado pela representante da Comunidade Zen-Budista do Brasil, monja Coen. “É triste sentarmos para dialogar o que já deveria existir no coração humano. Mas, se ainda não existe, que façamos desse encontro a oportunidade para buscarmos a paz e a tolerância”, destacou.

O xeque Houssam Ahmad El-Boustani, representante da Comunidade Muçulmana, fez coro aos demais líderes ao ressaltar a importância do diálogo inter-religioso para a paz. “O diálogo aproxima, traz aceitação, respeito, tolerância e a paz, por todos nós desejada. Mas, o diálogo não deve ser apenas uma palavra, deve ser uma atitude, na crença de uma convivência mais harmoniosa e de um mundo melhor”. O rabino Ruben Sternschein, da CIP, representou o judaísmo e deu fim ao ciclo de apresentações, destacando que “a busca pela forma de falar com e para cada religião é uma importante missão coletiva e o diálogo é o caminho mais certo para que se chegue à cultura de paz”.

Ao final do encontro, os líderes religiosos e demais presentes foram brindados com uma pequena apresentação do “The Voices os Peace Choir”. O grupo israelense formado por jovens judeus, cristãos e muçulmanos de 12 a 18 anos é fruto de parte do trabalho desenvolvido no Centro Comunitário Árabe-Judaico. Através da música, também manifestam o desejo por uma coexistência pacífica e um futuro tolerante.