“Onde está Anne Frank?” é o título do longa-metragem de animação fora de competição exibido na 74ª edição do Festival de Cannes, que acontece na Riviera Francesa. Dirigido pelo israelense Ari Folman, o filme trata da história de Anne Frank, adolescente judia que morreu num campo de concentração durante a Segunda Guerra Mundial.

Anne Frank se tornou mundialmente famosa por causa de seu diário, lançado postumamente em 1947. Em tempos atuais de pandemia, a palavra “lockdown” virou termo corrente e experimentado no mundo todo. Anne Frank e sua família – pai, mãe, irmã – passaram dois anos num lockdown infinitamente mais cruel e rígido do que o que se conhece hoje. Pelo simples fato de serem judeus.

Folman não foge do didatismo, necessário, mas consegue dar uma roupagem mais atual à personagem, dando vida a Kitty, que era como Anne chamava seu diário, ou seja, considerando-o como uma amiga. Kitty sai da redoma em que o diário é protegido no museu Anne Frank e perambula pela Amsterdã dos dias de hoje. As pessoas perseguidas que ela encontra são refugiados, também vítimas, como Anne Frank, de conflitos.

Anne Frank, nasceu na Alemanha, em 1929. A família deixa Frankfurt em 1933, já temerosa com o avanço do nazismo, e se instala em Amsterdã. Mas a ocupação alemã chega à Holanda em 1943. Com ajuda de amigos, a família Frank se esconde no sótão de uma casa, junto com outras quatro pessoas. Depois de uma provável denúncia, todos foram presos e enviados a campos de concentração, em fevereiro ou março de 1945, poucos meses antes do final da Guerra. Da família Frank, só o pai, Otto, sobreviveu. O diário da jovem, escrito durante os dois anos de lockdown, foi preservado pela amiga que ajudou os Frank a se esconder.

Ari Folman foi o autor do revolucionário filme de animação “Valsa com Bashir”, de 2008. O longa foi apresentado em Cannes e disputou o Oscar de melhor filme estrangeiro. Em formato de documentário, Folman relatou sua experiência na Guerra do Líbano de 1982, apontando a responsabilidade de Israel em não ter evitado o massacre de Sabra e Shatila.

Uma das motivações de Folman, além de ser ele próprio filho de sobreviventes do holocausto, foi um documentário “visto há seis ou sete anos, feito por um polonês”, como explicou na coletiva de imprensa em Cannes. “Um sobrevivente faz a previsão de que uma vez todos os sobreviventes morrerem, a história do holocausto seria vista de um ponto de vista muito distante”. Essa declaração fez o cineasta pensar em revisitar a história de Anne Frank.